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O DILEMA DOS AGROTÓXICOS: QUEM ESTÁ INGERINDO MAIS?
Por Manuela Ibi, nutricionista
De todas as substâncias estranhas ou tóxicas ao organismo (conhecidas
como xenobióticos), os agrotóxicos são os que mais provocam dúvidas em relação
ao consumo de alimentos de origem vegetal. Os agrotóxicos organoclorados foram
os primeiros pesticidas produzidos e, mais tarde, surgiram os organofosforados,
carbamatos, piretroides e derivados de trianzinas. A comercialização e
distribuição no Brasil de vários organoclorados (entre eles o DDT, Aldrin,
Heptacloro, Clordano, Dieldrin, BHC, Hexaclorobenzeno, Canfeno Clorado) foram
proibidas em 3 de setembro de 1995.
O uso destes agrotóxicos chegou a contaminar algumas bacias hídricas. No
Brasil, mais de 10 anos depois do uso de DDT na natureza, ainda se encontrou
contaminação em todas as matrizes de galinhas poedeiras numa região do Rio de
Janeiro, com comprometimento dos ovos utilizados para consumo humano.
Além de terem uma degradação lenta (mais de 10 anos), os agrotóxicos têm
uma característica peculiar: são altamente lipossolúveis, ou seja, se dissolvem
e se concentram em gordura. Isto quer dizer que sua capacidade de infiltração
em tecido gorduroso é altíssima e uma vez pulverizados em vegetais percorrem
rapidamente a cadeia alimentar da natureza. Mas, o que é cadeia alimentar?
Cadeia Alimentar é a sequencia de consumo a partir dos Produtores, ou
seja, dos vegetais, bactérias e fungos. Veja a figura abaixo:
Os pesticidas clorados penetram no organismo por contato cutâneo, vias
respiratórias e, principalmente pelo trato digestório, onde a contaminação
acontece primariamente pelas ingestão de alimentos com maior teor de gorduras.
Animais alimentados com ração são mais expostos à contaminação por consumir a
colheita proveniente de regiões com agricultura industrial que usa pesticidas
em larga escala.
Estudos com vegetarianas demonstram que o seu leite materno está menos
contaminado do que o
de onívoras, explicado pelo fato de os agrotóxicos serem lipossolúveis.
Com isso, os consumidores secundários e terciários da cadeia alimentar ficam
mais expostos, pois ao comerem outro animal ingerem tudo o que se acumulou no
seu tecido adiposo ao longo de toda a vida. O vegetariano estrito (vegano) será
exclusivamente consumidor primário.
A maior contaminação humana por agrotóxicos organoclorados é proveniente
do consumo de carne e derivados animais, especialmente os ovos. Segundo um
estudo, no caso do agrotóxico Aldrin, a ingestão chegava a 348% da ingestão
diária aceitável na população geral e a 146% a 183% nos vegetarianos.
Se compreendemos que, pelas diretrizes do Ministério da Saúde, se aceita
o consumo de até 100 gramas de carne numa dieta saudável, sua substituição por
feijões não trará aumento do nível de agrotóxicos. Os animais, por serem
consumidores primários ou secundários e pelo elevado teor de gordura corporal,
acumulam resíduos de pesticidas ao longo da vida. O ser humano, como parte
final dessa cadeia alimentar, recebe esses xenobióticos concentrados ao ingerir
a gordura animal.
Fonte:
Guia Alimentar de Dietas Vegetarianas para Adultos – SBV - 2012
Texto simplesmente incrível e minuciosamente explicado! Meus parabéns!
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